domingo, 14 de agosto de 2011

O Amor como Factor Civilizador


"As provas da psicanálise demonstram que quase toda relação emocional íntima entre duas pessoas que perdura por certo tempo — casamento, amizade, as relações entre pais e filhos — contém um sedimento de sentimentos de aversão e hostilidade, o qual só escapa à percepção em consequência da repressão. Isso acha-se menos disfarçado nas altercações comuns entre sócios comerciais ou nos resmungos de um subordinado em relação ao seu superior. A mesma coisa acontece quando os homens se reúnem em unidades maiores. Cada vez que duas famílias se vinculam por matrimónio, cada uma delas se julga superior ou de melhor nascimento do que a outra. De duas cidades vizinhas, cada uma é a mais ciumenta rival da outra; cada pequeno cantão encara os outros com desprezo. Raças estreitamente aparentadas mantêm-se a certa distância uma da outra: o alemão do sul não pode suportar o alemão setentrional, o inglês lança todo tipo de calúnias sobre o escocês, o espanhol despreza o português. Não ficamos mais espantados que diferenças maiores conduzam a uma repugnância quase insuperável, tal como a que o povo gaulês sente pelo alemão, o ariano pelo semita.

Quando essa hostilidade se dirige contra pessoas que de outra maneira são amadas, descrevemo-la como ambivalência de sentimentos e explicamos o facto, provavelmente de maneira demasiadamente racional, por meio das numerosas ocasiões para conflitos de interesse que surgem precisamente em tais relações mais próximas.



Nas antipatias e aversões indisfarçadas que as pessoas sentem por estranhos com quem têm de tratar, podemos identificar a expressão do amor a si mesmo, do narcisismo. Esse amor a si mesmo trabalha para a preservação do indivíduo e comporta-se como se a ocorrência de qualquer divergência das suas próprias linhas específicas de desenvolvimento envolvesse uma crítica delas e uma exigência da sua alteração. Não sabemos por que tal sensitividade deva dirigir-se exatamente a esses pormenores de diferenciação, mas é inequívoco que, em relação a tudo isso, os homens dão provas de uma presteza a odiar, de uma agressividade cuja fonte é desconhecida, e à qual se fica tentado a atribuir um carácter elementar.

Mas, quando um grupo se forma, a totalidade dessa intolerância desvanece-se, temporária ou permanentemente, dentro do grupo. Enquanto uma formação de grupo persiste ou até onde ela se estende, os indivíduos do grupo comportam-se como se fossem uniformes, toleram as peculiaridades dos seus outros membros, igualam-se a eles e não sentem aversão por eles. Uma tal limitação do narcisismo, de acordo com nossas concepções teóricas, só pode ser produzida por um determinado factor, um laço libidinal com as outras pessoas. O amor por si mesmo só conhece uma barreira: o amor pelos outros, o amor por objectos. Levantar-se-á imediatamente a questão de saber se a comunidade de interesse em si própria, sem qualquer adição de libido, não deve necessariamente conduzir à tolerância das outras pessoas e à consideração para com elas. Essa objeção pode ser enfrentada pela resposta de que, não obstante, nenhuma limitação duradoura do narcisismo é efectuada dessa maneira, visto que essa tolerância não persiste por mais tempo do que o lucro imediato obtido pela colaboração de outras pessoas. Contudo, a importância prática desse debate é menor do que se poderia supor, porque a experiência demonstrou que, nos casos de colaboração, se formam regularmente laços libidinais entre os companheiros de trabalho, laços que prolongam e solidificam a relação entre eles até um ponto além do que é simplesmente lucrativo. A mesma coisa ocorre nas relações sociais dos homens, como se tornou familiar à pesquisa psicanalítica no decurso do desenvolvimento da libido individual. A libido liga-se à satisfação das grandes necessidades vitais e escolhe como seus primeiros objectos as pessoas que têm uma parte nesse processo. E, no desenvolvimento da humanidade como um todo, do mesmo modo que nos indivíduos, só o amor actua como fator civilizador, no sentido de ocasionar a modificação do egoísmo em altruísmo. E isso é verdade tanto quanto ao amor sexual pelas mulheres, com todas as obrigações que envolve de não causar dano às coisas que são caras às mulheres, quanto do amor dessexualizado e sublimado, por outros homens, que se origina do trabalho em comum."



Sigmund Freud, in 'Psicologia das Massas e a Análise do Eu'

segunda-feira, 28 de março de 2011

ENCONTRO AMERICANO DE PSICANÁLISE DE ORIENTAÇÃO LACANIANA

Amigos,
alguém interessado em ir junto para o encontro? Conheço possibilidades bastante interessantes de transporte e estadia...
Se alguém tiver interesse de participar da "caravana", entre em contato, deixando mensagem aqui no site.
Um abraço a todos!


V ENAPOL
Encontro Americano de Psicanálise de Orientação Lacaniana
http://www.ebp.org.br/enapol/09/pt/images/intro/subtitulofbranco2.jpg
11 e 12 de Junho de 2011
Hotel Sofitel – Copacabana

Você não vai ficar aí sentado esperando as vaga do V ENAPOL se esgotarem, não é?
Já estamos com 810 inscritos.
Restam 300 lugares.
Apresse-se!

FESTA ENAPOL

AGENDA SEMANAL - DELEGAÇÃO PARANÁ - ESCOLA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um olhar para o desejo



O que fazer quando a faculdade acaba?? Quando a rotina de ficar atrás dos livros, e, de certo modo, atrás dos professores muda para uma rotinha que nós temos que criar, onde nós vamos responder pelas nossas escolhas, acertos e erros??



Acredito não haver uma resposta concreta para estas questões, já que cada sujeito tem suas aspirações e anseios, mas acredito que aceitar as escolhas que fazemos e bancá-las, seria, porque não dizer, o mais necessário para o inicio da nossa formação como profissionais, isso, dentro de qualquer área. As escolhas são muitas, e é importante pensar no por que estamos escolhendo isso, e não aquilo (é por causa do Outro que se deu bem em determinada área, é porque eu realmente me apaixonei pelo assunto ou é apenas a escolha mais fácil, ou ainda, a oportunidade que apareceu). Seja qual for a escolha, acredito que se pensarmos nas possíveis conseqüências e no porque estamos escolhendo, bancar essa escolha depois fica mais fácil.



Por que bancar uma escolha é tão importante e como bancamos uma escolha?? Bancamos uma escolha, penso eu, quando damos vazão para o nosso desejo, quando a escolha é pelo viés do nosso desejo e não pelo viés do desejo do outro, mas saber separar o que é meu e o que é do outro é uma tarefa difícil. E talvez, seja esse emaranhado (entre o que é meu e o que é do outro) o responsável pela angústia, pelo medo que sentimos quando a faculdade acaba.



Não é fácil dar os primeiros passos (penso que engatinhar já é um bom começo), clarear nossas idéias, separar o joio do trigo e trilhar um caminho. Mas se voltarmos o olhar para nós mesmos e deixarmos o nosso desejo emergir, o caminho começa a ficar mais colorido e prazeroso. E se tratando então, da psicologia, o inicio da jornada torna-se um aprendizado constante, onde ser psicóloga (o), tornando perceptíveis as escolhas de cada sujeito, abre-nos um leque, e através deste, conseguimos visualizar a nós mesmos, vem daí então, o grande aprendizado e o caminho começa a ser trilhado.

Denise Noni

(Psicóloga Clínica)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Participação 17º Festival Mundial da Juventude

Amigos leitores deste blog,
Estou entrando em férias neste final de semana até o próximo ano.

Embarco, neste sábado, para África do Sul, compondo a delegação brasileira no 17º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Lá vou fazer parte da mesa "O PAPEL DO MOVIMENTO ESTUDANTIL PARA UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE".


Um abraço a todos!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

GEORG GRODDECK

TRABALHO APRESENTADO POR LUCAS NÁPOLI NA UERJ.
O TEMA É INTERESSANTÍSSIMO, VALE A PENA OUVIR.
UM RESGATE HISTÓRICO DA OBRA DE GEORG GRODDECK, A PSICANÁLISE E A PSICOSSOMÁTICA. 
DO BLOG LUCAS NÁPOLI


Apresentações de Lucas Nápoli no V Seminário de Pesquisas do IMS-UERJ by lucasnapoli

http://soundcloud.com/lucasnapoli/apresentacoes-de-lucas-napoli-no-v-seminario-de-pesquisas-do-ims-uerj

O HOMEM PRIMITIVO

TEXTO DE MARCIO VEGAS DO BLOG O RECALQUE

A ideia de que existiu, há muito tempo atrás, um homem primitivo é um recurso muito utilizado para falar sobre a natureza e a origem do homem. Freud, no texto "Totem e Tabu", nos conta sobre um tempo mitológico, pré-civilizatório, em que os agrupamentos humanos eram dominados por um macho mais forte. A principal característica deste líder é o uso a força para manter o seu domínio, com o direito de matar qualquer um que o rivaliza-se. Outro aspecto importante, é o de ser o único a dispor de todas as fêmeas do grupo, independentemente dos laços de parentesco. As mulheres eram dele.


Tal figura terrível era, de tempos em tempos, substituída por um outro homem mais jovem e forte que conseguia vencê-lo em uma batalha mortal. Nos conta Freud que uma determinada vez, os homens se reuniram contra este pai ditador e decidiram matá-lo juntos; e para evitar que a tirania continuasse optaram por compartilhar o poder e as mulheres. Surge o primeiro pacto social a partir do assassinato do "pai da horda primitiva" e se instituiu a lei do incesto como modo de garantir fêmeas a todos os membros da tribo.

Festas e rituais foram criados para lembrar este dia e garantir o compromisso assumido entre os homens, revivendo o assassinato do pai. Com o tempo, o pai primitivo foi substituído por animais sagrados que por sua condição só podiam ser caçados e ingeridos em rituais; depois tornou-se um deus, em seguida vários deuses e novamente um Deus único.

Hoje, tempo em que valores são relativizados, cerimônias e ritos capitalizados, a lei e a hierarquia escrachados, perdemos recursos simbólicos para lidar com a agressividade. Resultado: mata-se porque era negro, porque era gay, porque era judeu, porque era mulçumano, porque era pobre, porque era rico, em geral, mata-se porque era diferente. Enfim, mata-se por falta de um importante anteparo psíquico para que o desejo de matar seja diferente do ato de matar. O homem primitivo é um mito vivo dentro de cada um de nós. Somos o homem primitivo

PARA QUE SERVE UM FIM?

BELÍSSIMA REFLEXÃO DO BLOG SIGNIFICANTES



“Difícil não é começar, difícil é recomeçar”. Li esta frase hoje, escrita em um quadro negro, em um dos lugares onde eu trabalho. Deixou-me pensativa. Ora, as coisas acabam. Tudo que tem um começo tem também um fim. Só o que tem fim é que pressupõe um recomeço. Aquilo que é infinito não pode ter um começo.


Diariamente vemos pessoas sofrendo com o final das coisas. Finais de relacionamentos, finais de histórias, finais de dia, finais. Espera-se ansiosamente pelo último capítulo da novela, pela última página do livro, pelo último dia de trabalho na empresa, pelo último dia de aula. Mas não pelo último beijo. Não pelo último brinde. Não pelo último afago. Não pela última palavra. Não pelo último dia de vida.

Todos sabemos que vamos morrer, basta estar vivo para isso, diz o clichê. Mas a vida se tornaria insuportável se não nos “esquecêssemos” disso. Justifico o uso das aspas. Não se esquece que vai morrer. Ninguém em são consciência coloca-se em uma situação de risco, porque esquece que pode morrer. Não nos jogamos da janela porque esquecemos que somos mortais.

Mas por outro lado, sim, esquecemos que podemos morrer. Acreditamos sermos imortais. É o tal do “isso não acontece comigo”. E não é só com a morte. O fulano faz sexo sem camisinha, duvidando de que pode mesmo pegar uma doença venérea. A fulana engravida, duvidando de que o seu corpo poderia gerar uma criança. O outro dirige depois de beber um bocado, pensando que vai ter sorte e chegar em casa sem nenhum arranhão. A outra cai no golpe do bilhete premiado achando que é esperta. E assim a vida segue.

A vida está sempre nos lembrando de que as coisas têm um final, de que não somos imortais, de que não somos super-heróis, de que não temos super poderes. E nós não cansamos de não aprender. Por quê?

Em Psicanálise, chama-se de recalque esse esquecimento que coloco entre aspas. A vida seria insuportável se tivéssemos consciência, o tempo todo, da morte. Quem suportaria falar cada palavra, pensando que poderia ser a última? Alguém seria forte o suficiente para dar o último beijo em cada beijo? Quão doído seria sair de casa para ir ao trabalho? Quão doído seria deixar os filhos na escola? Quem poderia dormir? É preciso recalcar a morte.

Por outro lado....suportaríamos a eternidade? E se vivêssemos para sempre? Quanto dura o “para sempre”? O eterno é simplesmente isso; eterno. Ausência de tempo, ausência de medo, ausência de riscos. Pode parecer confortável a uma primeira vista, mas certamente seria tão insuportável quanto se lembrar da morte o tempo todo. É como no filme “O diário de um vampiro”, em que o personagem principal diz que a eternidade é a sua maldição. Ou, ainda, Fred Mercury, que canta: “Who wants to live forever?”
Somos incapazes de valorizar as coisas das quais temos certeza. Não podemos amar as coisas das quais temos certeza. A certeza ofusca, deixa as coisas sem brilho. Seja a certeza de viver ou de morrer. Queixamos-nos da falta de garantias que a vida nos proporciona. Mas queixamos-nos de tantas coisas que amamos! Reclama-se da falta de liberdade que há nos relacionamentos, mas não se vive sem eles! (Cabe aí relacionamento com mãe, namorado, esposa, filho, etc) Queixamos-nos do outro, mas não podemos viver sozinhos.

Só podemos viver na condição de amar. Só podemos amar na condição de duvidar. Só podemos duvidar na condição de desejar. Desejar ser amado, desejar amar, desejar crescer, desejar viver, desejar realizar, desejar desejar.

“Difícil não é começar, difícil é recomeçar”, dizia a frase. O recomeço acontece depois de uma decepção. Depois que a vida nos frustra, nos lembra de que não há garantias, de que não estamos completamente seguros em lugar nenhum na vida. Seja um lugar de espaço físico (em casa, na rua, no shopping), ou em espaço como posição (namorada, marido, noiva). A vida vem, nos lembra da nossa finitude, e aí é preciso um recomeço. Frequentemente escuto pessoas dizerem que suas vidas melhoram depois disso. Que passaram a valorizar o seu tempo, a sua vida, depois de levar uma “rasteira” da vida; ou da morte. Há portadores de HIV que juram que a sua vida melhorou depois de saber do vírus. Dizem que passaram a viver, ao invés de apenas sobreviver.

Talvez porque sabendo da efemeridade das coisas, pode-se aproveitá-las. Sabendo da incerteza de cada momento, podemos vivê-los. Podemos passar de espectadores, a atores.

TV PRÁXIS






Link de video conferência de Antoni Vicens, do Instituto do Campo Freudiano de Barcelona.

http://www.icf-granada.net/videos3.htm#reTV

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DA MAIS VALIA AO OBJETO a COMO MAIS DE GOZAR

No bojo do movimento de maio de 1968 Lacan formaliza em seu ensino o conceito de objeto a como mais-de-gozar, dando uma guinada dos objetos a naturais, para os objetos de mercado, estabelecendo não como similar, mas como homólogo os termos mais-de-gozar (mehrlust), e o conceito que Marx faz de mais valia (mehrwert).


Lacan prossegue nesta aproximação, afirmando ainda que o sintoma não deveria ser buscado em Hipócrates, mas em Marx na sua formalização de mais valia.

É na passagem do período pré capitalista, onde o mercado se estabelece ainda pela troca de equivalentes, ao período de ascenso da burguesia em seu novo edifício econômico, que podemos identificar a criação do sintoma.

Lacan no Seminário XVI – De um Outro ao Outro, diz que o sujeito é aquilo que pode ser representado por um significante para outro significante e que isso seria calcado na descoberta de Marx de que o sujeito de valor de troca é representado pelo valor de uso. Tal troca de equivalentes, característico do período feudal, tem uma brecha, que cai com o advento do capitalismo, dando lugar a mais valia.

Na nova sociedade burguesa a condição de dominação e servidão típicas do feudalismo é recalcada. Marx trata da relação fetichista que o capitalista estabelece com as coisas, afirmando que as relações sociais entre indivíduos na nova sociedade capitalista disfarçam-se em relações sociais entre coisas. Daí o caráter fetichista do sintoma formalizado por Marx. O proletário, não mais na condição de escravo do senhor feudal, torna-se escravo de sua liberdade, ao vender livremente sua força de trabalho. Desprovido dos meios de produção, passa a ser mercadoria, e cujo uso produz mais valia, ou seja, o excedente que é apropriado pelo capitalista. A mais valia, como negação da troca por equivalentes, acarreta o sintoma, como um excesso de gozo.

Marx, em O Capital, estabelece as bases da teoria econômica de mercado, diferenciando-se de seus antecessores por identificar no valor da mercadoria, um excedente, sendo este da ordem de um excesso, é o lucro do capitalista.

Eis aí a mais valia nas palavras de Marx:

“Toda mais valia , qualquer que seja a forma na qual se cristalize, é por sua substância, materialização de trabalho não pago, que é igual ao trabalho excedente da venda de mão de obra do proletário.”



      Mais Valia                       trabalho excedente              trabalho não pago
__________________ = ___________________ = __________________

Valor da força de trabalho     trabalho necessário                  trabalho pago

Aí vemos a fómula de Marx da mais valia,
Na ágebra lacaniana se increverá da seguinte forma.


          DM






O S1, o senhor, age buscando um saber no campo do Outro. Saber que é do escravo, pois o senhor nada sabe. O saber fazer é do escravo. Nesta operação, do significante mestre com o significante do saber, há um resto, da ordem o excesso, do objeto a como mais-de-gozar.

Na formulação que lacan estabelece dos discursos, o objeto a, não se trata de um gozo “normal”, porque o gozo como está inscrito no laço social, só emerge de um excedente, sendo constitutivamente um excesso. O excesso necessário ao capitalista ao extrair o saber do proletário, que é a mais valia, excedente de trabalho.

Jacques-Alain Miller lembra que o objeto a é prioritário no campo da realização subjetiva, portanto na clinica e no laço social. Seria pois, todos os objetos a, inscritos nos quatro lugares dos discursos, mais-de-gozar?

A estrutura dos discursos estabelece o objeto a como mais-de-gozar. No discurso do analista, o objeto a se mostra como opaco, com efeito de rechaço, de recusa, mas também como objeto mais-de-gozar no interior da fantasia do analisante. No discurso do analista o que trabalha é o sujeito, ficando o saber suspenso.

         DA


No discurso da histérica o sujeito busca-se um significante que dê conta de seu gozo, não podendo dar conta do saber, evoca o mestre para dar conta do saber, enquanto deixa abaixo de si, o objeto a, como diz JAM, “como efeito de corte da linguagem no corpo”. É elemento causa de desejo. A histeria demonstra os objetos a naturais, mas quando estes mesmos objeto a naturais são postos no mercado pelo sintoma histérico, tais como as tatuagens, piercings, cirurgias plásticas, medicações, temos o objeto a como mais de gozar. Lembremos que é homólogo o mehrwert e o mehrlust, portanto todo objeto do mercado é objeto como mais-de-gozar.

         DH







No discurso Universitário, o agente é o saber pleno, tendo o professor como representante deste saber, que se liga em termos ao discurso da ciência, coloca o aluno, chamado por Lacan de astudado, que já caracteriza sua posição como objeto a como mais-de-gozar, por “não ser mais que unidade de valor”. É o que se vê hoje, na mercantilização do ensino, onde o excesso (excesso de alunos, excesso de pagantes, excesso de universidades, excesso que busca sempre a lógica de mercado) que garante a mais valia é também a forma de gozo fetichista

          DU






O mais-de-gozar, em sua relação de igualdade com a Mais Valia de Marx, permite isolar no laço social a função do objeto a .

LACAN, Jacques. O Seminário – livro 17 – O avesso da psicanálise.
LACAN, Jacques. O Seminário – livro 16 – de um Outro ao outro.
Zizek, Slavoj. Um Mapa da Ideologia – Cap. Como Marx inventou o Sintoma.
Forbes, Jorge – Os eixos da subverção analítica: Os quatro discursos – texto disponível no site do Instituto de Psicanálise Lacaniana – IPLA
Scilicet – Os objetos a na experiência psicanalítica – AMP
Marx, Carl. O capital – Livro I.
Indart JC – Conferência em Curitiba.

Rafael Mariante Sallet